segunda-feira, março 26, 2007

O milagre da vida

Naquele dia os degraus das escadas de pedra fria pareciam mais duros de subir. Na verdade, levaram tempo a mais até serem subidos. Mas a ansiedade era a mesma. Como se tivesse acabado de acontecer.
Os primeiros tempos foram duros, os últimos foram felizes e nervosos. Apesar da barriga crescida ainda não tinha percebido bem que elas realmente vinham a caminho e que iam preencher um espaço até aqui tão formatado.
Depois de subir as escadas, ouviu um silêncio que se houve na tranquilidade. Chamou baixinho, para anunciar a chegada, e entrou.
Agora tudo ia ser diferente, já não havia volta a dar, elas tinham chegado para transformar tudo de vez.
Seguiu pelo corredor e pousou a mão na maçaneta da porta, de leve e até, acho, a tremer.
Do lado de cá da porta estava todo um passado de descobertas, de brincadeiras irresponsáveis, de parvoíces e alegrias. A despreocupação.
Abriu a porta e o ar aqueceu. E ouviu melodias como as das caixas de música, apesar de não haver nenhuma por perto a tocar.
Do lado de lá da porta estava a menina mulher, que na mesma cara já tinha o olhar maternal e já articulava as pequeninas nas mãos como se o fizesse há anos.
Para lá do cansaço das noites mal dormidas, dos dias agitados e de nove meses em turbilhão, havia ali, de certo, um estado puro de felicidade.

sábado, março 10, 2007