quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Os melhores momentos da minha vida

O nervosismo da curiosidade, o medo de olharem para mim, a espectativa do desconhecido. Sentimentos vários e que ainda hoje consigo recriar na minha cabeça. Foi assim quando entrei para os escuteiros. A aventura de dormir fora de casa, em tendas, em acampamento, ainda por cima com as amigas do peito na mesma patrulha. Parece que foi ontem, aquela excitação da novidade, a amizade fidelíssima, dividir refeições, dividir tendas, dividir segredos, comentar rapazes, os primeiros beijos descritos às amigas sob um céu estrelado e ao calor de uma fogueira. Os primeiros acordes na guitarra, as primeiras Promessas, o primeiro Lenço. Muitos foram os momentos em que me julguei - e continuo a acreditar- a viver em estado de felicidade pura. Fazer mais amigas, de outros grupos, fazer amigos. Os primeiros cigarritos, fumados à escondida do chefe, e que de tanto esconder me queimaram os calções. Os raids à noite, onde não havia lugar para o frio nem para o sono, só algum medo, e muita adrenalina. A clareza do sentido de Deus, a formação de valores sólidos. A teimosia e a vontade de mudar o Mundo. Montar tenda aqui, ir à Missa ali. Fogos de Conselho seguidos de fogueira, amigos e café. Longas conversas noite fora. Chorar com os outros, pelos outros, chorar pelo o que é triste e pelo que é alegre. Criar uma cumplicidade inabalável, mesmo pelo tempo. Anos depois encontrar caras velhas em acampamentos novos.

Hoje a minha mochila, a minha farda e a minha guitarra guardam momentos únicos e marcas bem cravadas de sensações que desejava voltar a viver com todas as minhas forças. É impossivel descrever-vos as saudades que me roiem o coração, e que me fazem querer levar aos outros o que já fizerem por mim. Agora é esse o meu papel. É bom perder horas e semanas em projectos na sede dos escuteiros, se como recompensa temos os melhores momentos da nossa vida!

Por ter ganho confiança em mim e por chegar mais longe impelindo a minha própria canoa, obrigada BP.

Partir e Mudar

As partidas são actos de grande coragem. Primeiro porque nem sempre sabemos o que vamos ganhar com isso, e depois porque sabemos bem o que vamos perder. Tomar novos caminhos, arriscar no escuro, tomar uma decisão e dá-la a conhecer a todos... a coragem, o medo, o perigo e a nostalgia. As saudades dos tempos que nunca mais vão voltar a ser os mesmos, dos cheiros, sabores, sensações, hábitos... partir é uma promessa de mudança, principalmente quando não se pode voltar atrás.

Os meus olhos varrem Lisboa através dum autocarro ensolarado. O medo das várias partidas atormenta-me e ocupa os meus últimos dias antes de as conceder. As minhas meninas voltam, menos mal. A laranja voltará a ser a mesma, e de certo ainda mais doce. A Patrulha Raposa, a Equipa Águia e a JB, essas, ficam em fotografias, em papel de diário, em memórias e recordam-se em lágrimas de muita, mas muita saudade. A viagem termina, mas para outra começar.