domingo, fevereiro 25, 2007
quarta-feira, fevereiro 07, 2007
terça-feira, fevereiro 06, 2007
O Anti-Kitsch
“Os homens que têm as manias das mulheres dividem-se facilmente em duas categorias. Uns procuram em todas as mulheres a ideia que eles próprios têm da mulher tal como ela lhes aparece em sonhos, o que é algo de subjectivo e sempre igual. Aos outros, move-os o desejo de se apoderarem da infinita diversidade do mundo feminino objectivo.
A obsessão dos primeiros é uma obsessão lírica; o que procuram nas mulheres não é senão eles próprios, não é senão o seu próprio ideal, mas, ao fim e ao cabo, apanham sempre uma grande desilusão, porque, como sabemos, o ideal é precisamente o que nunca se encontra. Como a desilusão que os faz andar de mulher em mulher dá, ao mesmo tempo, uma desculpa melodramática à sua inconstância, não poucos corações sensíveis acham comovente a sua perseverante poligamia.
A outra obsessão é a obsessão épica e as mulheres não vêem nela nada de comovente: como o homem não projecta nas mulheres um ideal subjectivo, tudo tem interesse e nada pode desiludi-lo. E esta impossibilidade de desilusão encerra em si algo de escandaloso. Aos olhos do mundo, a obsessão do femeeiro épico não tem remissão (porque não é resgatada pela desilusão).
Na sua caça ao conhecimento, os femeeiros épicos afastam-se cada vez mais da beleza feminina convencional (de que depressa se cansam) e acabam infalivelmente como coleccionadores de curiosidades.”
A Insustentável Leveza do Ser, MILANKUNDERA
Ele usava códigos de silêncio. Ela lia-os atentamente no meio da desconcentração da barulheira habitual. Muitas vezes ele nem dava por isso. Ele usava o bisturi imaginário para abrir o mundo, para lhe descobrir o que ela tinha de novo, para desvendar e coleccionar. Nele, a memória poética já estava preenchida há muito tempo, agora só jogava com o bisturi à procura de algo novo e diferente que, na verdade, sabia que já não ia encontrar. É que ele acreditava na “eterna solidão da alma”. Mas ela também. Então, a porta fechou-se poeticamente e na volúpia habitual. Descontraidamente. Sem culpas. Ambos sabiam que seria assim.
A obsessão dos primeiros é uma obsessão lírica; o que procuram nas mulheres não é senão eles próprios, não é senão o seu próprio ideal, mas, ao fim e ao cabo, apanham sempre uma grande desilusão, porque, como sabemos, o ideal é precisamente o que nunca se encontra. Como a desilusão que os faz andar de mulher em mulher dá, ao mesmo tempo, uma desculpa melodramática à sua inconstância, não poucos corações sensíveis acham comovente a sua perseverante poligamia.
A outra obsessão é a obsessão épica e as mulheres não vêem nela nada de comovente: como o homem não projecta nas mulheres um ideal subjectivo, tudo tem interesse e nada pode desiludi-lo. E esta impossibilidade de desilusão encerra em si algo de escandaloso. Aos olhos do mundo, a obsessão do femeeiro épico não tem remissão (porque não é resgatada pela desilusão).
Na sua caça ao conhecimento, os femeeiros épicos afastam-se cada vez mais da beleza feminina convencional (de que depressa se cansam) e acabam infalivelmente como coleccionadores de curiosidades.”
A Insustentável Leveza do Ser, MILANKUNDERA
Ele usava códigos de silêncio. Ela lia-os atentamente no meio da desconcentração da barulheira habitual. Muitas vezes ele nem dava por isso. Ele usava o bisturi imaginário para abrir o mundo, para lhe descobrir o que ela tinha de novo, para desvendar e coleccionar. Nele, a memória poética já estava preenchida há muito tempo, agora só jogava com o bisturi à procura de algo novo e diferente que, na verdade, sabia que já não ia encontrar. É que ele acreditava na “eterna solidão da alma”. Mas ela também. Então, a porta fechou-se poeticamente e na volúpia habitual. Descontraidamente. Sem culpas. Ambos sabiam que seria assim.
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