quinta-feira, agosto 23, 2007
Dos olhos que não quiseram ver bem Lisboa
Lisboa tinha-se deitado ali aos pés dele. Num fim de tarde com luz suficiente para o Tejo todo brilhar e iluminar a cidade da Baixa ao Castelo. Os olhos varreram a cidade, talvez de forma rápida demais, ou de uma forma maquinal, quem sabe, de quem está habituado a ver sempre o mesmo e não espera surpresas. Lisboa ficou triste. Ele não viu nada, não percebeu nada dela, e por isso não a amou. A cidade deixou-se ficar muito sossegada, a ver o que ele fazia, mas ele não reparou bem no que ela tinha para mostrar e para dar, e seguiu viagem.
terça-feira, agosto 21, 2007
domingo, agosto 19, 2007
quarta-feira, agosto 01, 2007
100 anos - Renovação mundial da Promessa
Prometo, pela minha honra e com a graça de Deus, fazer todo o possível por:
Cumprir os meus deveres para com Deus, a Igreja e a Pátria;
Auxiliar o meu semelhante em todas as circunstâncias;
Obedecer à Lei do Escuta.
Cumprir os meus deveres para com Deus, a Igreja e a Pátria;
Auxiliar o meu semelhante em todas as circunstâncias;
Obedecer à Lei do Escuta.
quarta-feira, julho 25, 2007
they don’t know how it really feels
Superstars – David Fonseca
Your heart is broken
And you don’t seem to mind.
I guess it happens
A little too many times, too many times.
You tried and you got tired,
Those long haft written stories,
You held a fire
Right under the snow.
They don’t, they don’t,
how could they really know?
They don’t, they don’t know how it really feels,
They’re just here on holidays,
Like dummies filling landscapes.
How could they see you cry?
Do you remember me?
I was the one that held you through,
I held the spotlight
When you did that crazy dance.
Danced with you,
I felt like superstars do.
Me and you,
We’re just like superstars.
I was around you,
You couldn’t really tell.
I held you close
While you drove.
You just drove into hell you know…
A kind of hurt that binds,
A light that loves you blind,
And while your feet go,
They go deeper in the sand.
You wave and drown,
You’re waving to the crowd that sits,
But they don’t know how it really feels,
They’re just here on holidays
Like dummies filling landscapes.
How could they see you cry?
Do you remember me?
I was the one that held you through.
I held the spotlight
When you did that crazy dance with me.
Yeah, you did that crazy dance,
You did that crazy dance with me.
‘Cus they don’t know how it feels,
They’re just here on holidays,
Like dummies filling landscapes,
How could they see us cry?
Will you remember me?
I was the one that held you through,
I held the spotlight
when you did that crazy dance with me.
As I danced with you,
I felt like superstars do.
Me and you,
We’re just like superstars.
Dance with you,
Just like superstars do.
Me and you,
We’re just like superstars.
Your heart is broken
And you don’t seem to mind.
I guess it happens
A little too many times, too many times.
You tried and you got tired,
Those long haft written stories,
You held a fire
Right under the snow.
They don’t, they don’t,
how could they really know?
They don’t, they don’t know how it really feels,
They’re just here on holidays,
Like dummies filling landscapes.
How could they see you cry?
Do you remember me?
I was the one that held you through,
I held the spotlight
When you did that crazy dance.
Danced with you,
I felt like superstars do.
Me and you,
We’re just like superstars.
I was around you,
You couldn’t really tell.
I held you close
While you drove.
You just drove into hell you know…
A kind of hurt that binds,
A light that loves you blind,
And while your feet go,
They go deeper in the sand.
You wave and drown,
You’re waving to the crowd that sits,
But they don’t know how it really feels,
They’re just here on holidays
Like dummies filling landscapes.
How could they see you cry?
Do you remember me?
I was the one that held you through.
I held the spotlight
When you did that crazy dance with me.
Yeah, you did that crazy dance,
You did that crazy dance with me.
‘Cus they don’t know how it feels,
They’re just here on holidays,
Like dummies filling landscapes,
How could they see us cry?
Will you remember me?
I was the one that held you through,
I held the spotlight
when you did that crazy dance with me.
As I danced with you,
I felt like superstars do.
Me and you,
We’re just like superstars.
Dance with you,
Just like superstars do.
Me and you,
We’re just like superstars.
terça-feira, julho 24, 2007
quarta-feira, julho 11, 2007
Milho Quente
E naquela tarde, o milho, alto e verde à beira da estrada, fervia como naquele final de Agosto. E depois, todos ficaram quietos e apáticos e cúmplices e cansados... a olhar, como se contemplassem uma obra de arte, de tão profundamente que o faziam.
Sim, a morte é uma formalidade. Só isso.
Sim, a morte é uma formalidade. Só isso.
domingo, junho 24, 2007
quarta-feira, maio 30, 2007
Hard to Explain
I missed the last bus
I'll take the next train
I tried but you see
It's hard to explain
I say the right thing
But act the wrong way
I like it right here
But I cannot stay
I watch the tv
Forget what I'm told
Well I am too young
And they are too old
The joke is on you
This place is a zoo
You're right, it's true
I'll take the next train
I tried but you see
It's hard to explain
I say the right thing
But act the wrong way
I like it right here
But I cannot stay
I watch the tv
Forget what I'm told
Well I am too young
And they are too old
The joke is on you
This place is a zoo
You're right, it's true
terça-feira, maio 22, 2007
Como pode uma vida caber numa pasta?
Na fita que a D.Graça me escreveu, recordou as bonecas que espalhávamos no fundo da sala, junto da mesa grande, com tampo de madeira envernizada e com os pés de ferro, encarnados. Na mesma sala as paredes penduravam as vogais e todas as letras do alfabeto, e no meio da tarde havia sempre alguém que pedia para "dar o leite". No largo, no "intervalo grande", tínhamos quarenta minutos para jogar à passadeira. Caíram os primeiros dentes e fizeram-se os primeiros amigos.
Ainda com saia de pregas e meias pelos joelhos passámos juntos para o ciclo, onde o medo foi superado pelo facto de ficarmos todos juntos na mesma turma. Durante muitos intervalos ainda jogámos ao berlinde, perto da sala de música e conservámos o mesmo grupo, na mesma turma.
As primeiras matinés no Lagar ainda foram vividas com receio e inocência. Depois vieram as fugas das quartas-feiras à tarde, de biciclete e depois de scooter.
As primeiras camisolas a cheirar a tabaco foram disfarçadas, com histórias mal contadas, e num instante tínhamos chegado ao nono ano. Veio a primeira grande mudança. Era chegada a vez de cada um seguir um caminho diferente, e assim foi. E assim ficámos grandes, conquistámos os parapeitos das janelas do bar e contra eles atirávamos , todas as manhãs, as mochilas pesadas.
Uns foram-se afastando e aproximaram-se amigos novos.
Fomos assim montando o futuro, os projectos, fazendo contas à vida que ameaçava passar rápido.
Entre viagens à Praia da Rocha, hemiciclos, AE´s...havia sempre tempo para os estudos, para as aulas sábias do nosso querido Platão, do divertido Bin Laden, para as aulas de todos, que no secundário nos marcaram de forma tão especial. Entre dicionários de latim e os tapetes de judo do pavilhão, estudou-se para os temíveis exames nacionais, sob o calor intenso de um verão que anunciava uma mudança quente.
Depois, fomos os três a Santarém e revejo agora a tinta a sair da caneta, que entre a mão nervosa fez a candidatura ao Ensino Superior.
Mais uma grande mudança. Cada vez mais afastados uns dos outros.
Cheguei à faculdade e senti-me uma criança. Apalpei terreno, fiz o reconhecimento do local, deixei que as segundas impressões passassem a terceiras. Tive certezas. Fiz amigos para a vida, como achava que não fazia mais, como alguns que já tinha, mas que compreendem melhor que ninguém o que agora sinto!
Agora, é a maior das mudanças... e a ansiedade é maior do que nunca. A única certeza que temos é a de que tudo, de hoje para a frente, é incerto. Tanto, que dói.
Não nos deixam salvar o mundo nem vigiar a verdade, pedem-nos para montar as palavras para moldes já feitos. Nem nos dão tempo para pensar no que já não somos. Não há tempo como havia antes.
Ainda me lembro do cheiro da bata da D. Graça e do sorriso reconfortante da "Tia da Escola", quando eu caía no recreio.
segunda-feira, março 26, 2007
O milagre da vida
Naquele dia os degraus das escadas de pedra fria pareciam mais duros de subir. Na verdade, levaram tempo a mais até serem subidos. Mas a ansiedade era a mesma. Como se tivesse acabado de acontecer.
Os primeiros tempos foram duros, os últimos foram felizes e nervosos. Apesar da barriga crescida ainda não tinha percebido bem que elas realmente vinham a caminho e que iam preencher um espaço até aqui tão formatado.
Depois de subir as escadas, ouviu um silêncio que se houve na tranquilidade. Chamou baixinho, para anunciar a chegada, e entrou.
Agora tudo ia ser diferente, já não havia volta a dar, elas tinham chegado para transformar tudo de vez.
Seguiu pelo corredor e pousou a mão na maçaneta da porta, de leve e até, acho, a tremer.
Do lado de cá da porta estava todo um passado de descobertas, de brincadeiras irresponsáveis, de parvoíces e alegrias. A despreocupação.
Abriu a porta e o ar aqueceu. E ouviu melodias como as das caixas de música, apesar de não haver nenhuma por perto a tocar.
Do lado de lá da porta estava a menina mulher, que na mesma cara já tinha o olhar maternal e já articulava as pequeninas nas mãos como se o fizesse há anos.
Os primeiros tempos foram duros, os últimos foram felizes e nervosos. Apesar da barriga crescida ainda não tinha percebido bem que elas realmente vinham a caminho e que iam preencher um espaço até aqui tão formatado.
Depois de subir as escadas, ouviu um silêncio que se houve na tranquilidade. Chamou baixinho, para anunciar a chegada, e entrou.
Agora tudo ia ser diferente, já não havia volta a dar, elas tinham chegado para transformar tudo de vez.
Seguiu pelo corredor e pousou a mão na maçaneta da porta, de leve e até, acho, a tremer.
Do lado de cá da porta estava todo um passado de descobertas, de brincadeiras irresponsáveis, de parvoíces e alegrias. A despreocupação.
Abriu a porta e o ar aqueceu. E ouviu melodias como as das caixas de música, apesar de não haver nenhuma por perto a tocar.
Do lado de lá da porta estava a menina mulher, que na mesma cara já tinha o olhar maternal e já articulava as pequeninas nas mãos como se o fizesse há anos.
Para lá do cansaço das noites mal dormidas, dos dias agitados e de nove meses em turbilhão, havia ali, de certo, um estado puro de felicidade.
sábado, março 10, 2007
domingo, fevereiro 25, 2007
quarta-feira, fevereiro 07, 2007
terça-feira, fevereiro 06, 2007
O Anti-Kitsch
“Os homens que têm as manias das mulheres dividem-se facilmente em duas categorias. Uns procuram em todas as mulheres a ideia que eles próprios têm da mulher tal como ela lhes aparece em sonhos, o que é algo de subjectivo e sempre igual. Aos outros, move-os o desejo de se apoderarem da infinita diversidade do mundo feminino objectivo.
A obsessão dos primeiros é uma obsessão lírica; o que procuram nas mulheres não é senão eles próprios, não é senão o seu próprio ideal, mas, ao fim e ao cabo, apanham sempre uma grande desilusão, porque, como sabemos, o ideal é precisamente o que nunca se encontra. Como a desilusão que os faz andar de mulher em mulher dá, ao mesmo tempo, uma desculpa melodramática à sua inconstância, não poucos corações sensíveis acham comovente a sua perseverante poligamia.
A outra obsessão é a obsessão épica e as mulheres não vêem nela nada de comovente: como o homem não projecta nas mulheres um ideal subjectivo, tudo tem interesse e nada pode desiludi-lo. E esta impossibilidade de desilusão encerra em si algo de escandaloso. Aos olhos do mundo, a obsessão do femeeiro épico não tem remissão (porque não é resgatada pela desilusão).
Na sua caça ao conhecimento, os femeeiros épicos afastam-se cada vez mais da beleza feminina convencional (de que depressa se cansam) e acabam infalivelmente como coleccionadores de curiosidades.”
A Insustentável Leveza do Ser, MILANKUNDERA
Ele usava códigos de silêncio. Ela lia-os atentamente no meio da desconcentração da barulheira habitual. Muitas vezes ele nem dava por isso. Ele usava o bisturi imaginário para abrir o mundo, para lhe descobrir o que ela tinha de novo, para desvendar e coleccionar. Nele, a memória poética já estava preenchida há muito tempo, agora só jogava com o bisturi à procura de algo novo e diferente que, na verdade, sabia que já não ia encontrar. É que ele acreditava na “eterna solidão da alma”. Mas ela também. Então, a porta fechou-se poeticamente e na volúpia habitual. Descontraidamente. Sem culpas. Ambos sabiam que seria assim.
A obsessão dos primeiros é uma obsessão lírica; o que procuram nas mulheres não é senão eles próprios, não é senão o seu próprio ideal, mas, ao fim e ao cabo, apanham sempre uma grande desilusão, porque, como sabemos, o ideal é precisamente o que nunca se encontra. Como a desilusão que os faz andar de mulher em mulher dá, ao mesmo tempo, uma desculpa melodramática à sua inconstância, não poucos corações sensíveis acham comovente a sua perseverante poligamia.
A outra obsessão é a obsessão épica e as mulheres não vêem nela nada de comovente: como o homem não projecta nas mulheres um ideal subjectivo, tudo tem interesse e nada pode desiludi-lo. E esta impossibilidade de desilusão encerra em si algo de escandaloso. Aos olhos do mundo, a obsessão do femeeiro épico não tem remissão (porque não é resgatada pela desilusão).
Na sua caça ao conhecimento, os femeeiros épicos afastam-se cada vez mais da beleza feminina convencional (de que depressa se cansam) e acabam infalivelmente como coleccionadores de curiosidades.”
A Insustentável Leveza do Ser, MILANKUNDERA
Ele usava códigos de silêncio. Ela lia-os atentamente no meio da desconcentração da barulheira habitual. Muitas vezes ele nem dava por isso. Ele usava o bisturi imaginário para abrir o mundo, para lhe descobrir o que ela tinha de novo, para desvendar e coleccionar. Nele, a memória poética já estava preenchida há muito tempo, agora só jogava com o bisturi à procura de algo novo e diferente que, na verdade, sabia que já não ia encontrar. É que ele acreditava na “eterna solidão da alma”. Mas ela também. Então, a porta fechou-se poeticamente e na volúpia habitual. Descontraidamente. Sem culpas. Ambos sabiam que seria assim.
sexta-feira, janeiro 26, 2007
quinta-feira, novembro 30, 2006
terça-feira, novembro 28, 2006
Aos halterofilistas de pesos metafísicos
"Ao contrário de Parménides, parece que Beethoven considerava o peso como algo de positivo. Der schwer gefasste Entschluss, a decisão gravemente pesada está associada à voz do destino (Es muss sein!); o peso, a necessidade e o valor são três noções íntima e profundamente ligadas: só é grave o que é necessário, só tem valor o que pesa.
A origem desta convicção situa-se na música de Beethoven e, sendo embora possível (senão provável) que seja mais da responsabilidade dos seus exegetas do que do próprio compositor, hoje quase todos nós a partilhamos: para nós, a grandeza de um homem reside no facto de carregar com o seu destino como Atlas carregava aos ombros a abóbada dos céus. O herói beethoveniano é um halterofilista de pesos metafísicos."
A Insustentável Leveza Do Ser
MILANKUNDERA
quarta-feira, outubro 18, 2006
Mete gelo, que isso passa...
Vejo-me obrigada a desviar-me do estilo deste blog para vos contar mais uma história hilariante: não é daquelas que só acontecem aos outros, é daquelas que só acontecem a mim.
Há um mês atrás parti o quinto dedo (como os médicos insistem referir na sua sapiência intocável) da mão esquerda. Isto aconteceu a saltar ao eixo (esta é uma das partes incríveis da história). Não fui logo ao médico porque quando ousei supor que tinha o dedo partido disseram-me: "Mariquinhas, que disparate...mete gele, que isso passa."
No dia seguinte, em Santarém, o ortopedista de serviço pôs-me uma tala no dedo e recomendou-me que a mantivesse durante três semanas, e que depois de a tirar tivesse muito cuidado para não voltar a partir o dedo, pois no mês seguinte seria muito provável.
No Centro de Saúde da Golegã, onde fui dias depois a conselho do ortopedista, uma enfermeira, que me trocou a ligadura meio a medo e sem certezas do que estava a fazer, disse-me que ao fim das três semanas podia tirar a tala em casa e seguir a minha vidinha. O meu médico de família confirmou este procedimento e ainda acrescentou: "mete gelo que isso passa".
Ao fim de três semanas eu tirei a tala, em casa. O meu dedo estava torto, muito torto. Duro, imóvel e negro.
Eu estranhei, a minha mãe também, todos estranharam.
Suspeito.
Atentando ao discernimento das pessoas que me rodeiam decici fazer um novo raio-x, desta vez no Entroncamento. O médico que analisou o raio-x no serviço de urgências fez má cara quando olhou para o monte de ossos que se agregam na minha mão esquerda. "Vá a um ortopedista, o mais rápido possivel, isto não está nada bom, nada bom...", recomendou-me.
Segunda-feira, Santa Maria. Chuva infernal na rua. Macas, cadeiras de rodas, serviço de urgências entupido. Conto esta história toda no seriço de triagem. Dão-me uma pulseira verde que não consegui por sozinha, já que a minha mão esquerda já teve melhores dias. Envergonhada, peço ao segurança para me ajudar.
De pulseira verde no pulso (depois de descer de nível, já que há três semanas era amarela), cartas do médico, radiografias e muita desorientação pelos longos corredores do famoso hospital, eis que sou chamada. Entro no consultório. Dois médicos, uma enfermeira, uma auxiliar e dez jovens estagiários de medicina, ordenados em fila indiana, a assistir às consultas.
Num tom divertido o médico pede-me para contar a minha história. Contei-a, outra vez.
"Ah pois é, isto não está nada bom!", exclamou enquanto olhava as radiografias e o colega simultaneamente, num olhar que queria dizer muito, mas que eu não percebia.
"Lembram-se disto?", pergunta virado para os alunos, "falámos disto na aula passada."
A questão foi a seguinte: o primeiro ortopedista não conseguiu tratar-me o dedo, a função básica deste especialista, acho eu.
"Ele deveria ter-lhe posto do dedo no sítio antes de pôr a tala. Agora já solidificou, mas torto. Vamos ter de mexer...isto já não deve dar para partir facilmente...", disse. E antes que eu percebesse alguma coisa , já estava agarrado ao meu dedo a tentar partir o osso mal recuperado.
"Veja lá o que vai fazer, isso dóóóóóói", disse-lhe.
"Oiça lá, não confia em mim porque sou médico ou porque sou homem?", questionou-me. Sorri e não respondi, afinal não era uma pergunta fácil.
Enquanto isto, os estagiários continuavam em fila, ordenados, de braços cruzados, com ar sério.
Finalmente o médico desistiu de tentar partir-me o dedo.
"Simule que está a beber um café e agarra a chávena com a mão esquerda."
Eu simulei.
"Está a ver o estilo que iso lhe dá, com o dedo esticadinho?!", foi com este disparo que os estagiários desmontaram a sua seriedade e se riram.
"Você vai já para a ortopedia. Depois não se vá embora sem me vir contar quando é operada e o que o meu colega lhe disse", pediu, mostrando uma curiosidade característica de vizinha velha.
Mais uma fila, mais um papel, mais uns acamados a gemer em mais um corredor. Chega a minha vez. Contei a minha história, outra vez.
"Tem de ser operada. Mas não pode ser já, o seu dedo está a sofrer de uma rigidez que lhe afecta toda a zona lateral da mão (isso eu já tinha percebido). Faz um mês de fisioterapia e depois é operada. Vamos pôr uns parafusos no dedo durante seis meses, e depois serão retirados."
Esta foi a última sentença.
Eu só parti um dedo.
O médico insinuou que me faltvam parafusos.
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